Videos

23/04/2025 16:28:51
A Saga da Estrada de Ferro de Mossoró

A história das ferrovias tem início no século XIX, precisamente no ano de 1804, quando a máquina a vapor começou a ser utilizada para movimentar composições sobre trilhos, inovação criada pelo engenheiro britânico Richard Trevithick. No Brasil começou no ano de 1854, com a inauguração da Estrada de Ferro Mauá, por D. Pedro II, mas concebida graças a genialidade de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. A Estrada de Ferro Mauá partia do Rio de Janeiro com destino a Petrópolis, numa extensão de 15,5 Km.
Na segunda metade do século XIX existia na cidade de Mossoró, interior da Província do Rio Grande do Norte, uma grande Importadora/Exportadora chamada Casas Graff, que pertencia ao suíço Jonh Ulrich Graff. A empresa exportava matérias primas como algodão, sal, peles, cera de carnaúba e outros produtos para a Inglaterra e de lá recebia mercadorias industrializadas, principalmente tecidos, porcelanas e outras utilidades. Mas havia uma perda de tempo muito grande entre o descarregamento do navio e a distribuição dessas mercadorias, que abasteciam não só o Oeste potiguar, mas também parte da Paraíba e Ceará. Entendia Graff que o progresso de Mossoró dependia da velocidade com que conseguisse distribuir os seus produtos. A tropa de burros, que até então transportava as mercadorias, já não era suficiente para atender a um mercado crescente como o de Mossoró, que naquela época era tida como empório comercial. Fazia-se mister a construção de uma ferrovia, que entre outros benefícios, baratearia os fretes e diminuiria o tempo de transporte.
Graff era um homem de visão e passou a perseguir o sonho de criar uma ferrovia que, partindo de Porto Franco, o porto de Mossoró, chegasse até a cidade de Petrolina, na Bahia. Conseguiu junto ao Presidente da Província a concessão, através da Lei nº 742, de 26 de agosto de 1875, para a construção da ferrovia. Mas por falta de recursos, o projeto caducou. Graff chegou a criar uma empresa e oferecer cotas às pessoas de recursos, como se dizia naquela época, aqui residentes. Mas não conseguiu o suficiente para viabilizar o projeto, que permaneceu apenas como um sonho.
Quase quarenta anos depois o sonho de Urich Graf começava a se realizar. Outros passaram a ter o mesmo sonho, e como diz o ditado, “sonho que se sonha só é apenas sonho, mas sonho que se sonha unido é realidade”.  E esse novo sonho se concretizou com a Companhia Estrada de Ferro de Mossoró S. A, que foi iniciada pela firma Sabóia de Albuquerque & Cia. em 31 de agosto de 1912. Em 19 de março de 1915, numa Sexta-feira, a exatos 106 anos, era inaugurado oficialmente o seu primeiro trecho, entre Porto Franco, em Areia Branca e Mossoró. Esse sonho era compartilhado por toda Mossoró por isso, quando a locomotiva “Alberto Maranhão” chegou à Estação, foi recebida com aplauso.  Na plataforma do carro-chefe da composição, viajavam: João Tomé de Sabóia, Cel. Vicente Sabóia de Albuquerque, Farmacêutico Jerônimo Rosado, Camilo Filgueira, Rodolfo Fernandes, Cel. Bento Praxedes, Vicente Carlos de Sabóia Filho, além do mais velho habitante da cidade, o Sr. Quintiniano Fraga, que ostentava o pavilhão nacional. Aquele 19 de março foi realmente uma data muito importante para Mossoró.
O trecho que foi inaugurado naquela data era só o começo de uma grande batalha.  Mas estava aberta a luta pelo prolongamento da Estrada de Ferro, cujos trilhos levariam ainda outros longos 30 anos para fazerem ligação com a Rede Viação Cearense, na cidade de Souza, na Paraíba.
Apesar de tudo, a ferrovia foi de muita utilidade para Mossoró, sendo, por longo tempo o meio de transporte mais utilizado pela população, tanto para carga como para passageiros.
Hoje, ninguém fala mais daquele 19 de março de 1915, que tanto orgulho deu ao povo de Mossoró. A Estrada de Ferro que fora inaugurada naquela data, já não existe mais. A estação de embarque, transformou-se em Estação das Artes; seus trilhos foram arrancados em grandes trechos, suas oficinas estão em ruínas e das locomotivas, que antes cortavam a cidade, não se tem mais notícias. A velha "Maria Fumaça” desapareceu para sempre nas nuvens do esquecimento.